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Do que somos feitas? 
Exposição individual / Solo exhibition

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A mostra DO QUE SOMOS FEITAS faz parte de uma pesquisa sobre tempo, materialidade e memória. A intenção foi criar um diálogo entre a argila e os materiais naturais. Conversa essa que reside em contrastes. O duro e o flexível, o quente e o frio, o passado e o presente.

 

Diversos elementos que estão nesta composição foram da minha avó. Guardei sua bolsa e seus chapéus de palha durante alguns anos após a sua morte. Era difícil olhar pra eles. Tinham o seu cheiro, a sua risada, o seu jeito meigo de olhar. Comecei a trabalhar com a argila e me deu um imenso prazer todo aquele descontrole gestual, afinal eu costumava ser muito controlada. Pensava em algo e fazia outra coisa. Era como se o meu corpo que soubesse o movimento e não a minha mente e não as minhas aulas técnicas de torno ou de placa. 

 

Um dia resolvi olhar pra aqueles objetos que estavam guardados em uma caixa no fundo da estante, e da memória, e num lapso de tristeza misturado com impulso, resolvi cortar-los. Pouco a pouco fui conectando o barro a palha, os furos ao destramar da bolsa rendada, a costura aos fios de sisal. Outros elementos foram surgindo, a bucha vegetal, acho que a minha avó usava uma dessas no banho, mas não sei se criei essa memória, as contas de madeira, o pedaço de pau que encontrei numa caixa cheia de objetos repletos de maresia. Nessa instalação trouxe o tempo comigo, não só nos objetos que eram da minha avó, não só no endurecimento da cerâmica, que um dia foi terra úmida e maleável, mas também em cada folha verde de Areca que envelhece ao longo da exibição dessa exposição bem ali no chão do museu. Obras repousam sobre elas, sinto que são como pequenos tesouros remendados.

 

No final das contas cada pedaço do nosso corpo, carrega centenas de partículas milenares que nos compõem e nos explicam tanto, silenciosamente. Somos retalhos costurados a mão por fios de lã.  Também somos grito, gesto, chão. Somos a soma de tudo o que se pode imaginar e sentir ao mesmo tempo. Somos muito, somos fluxo. Somos histórias contadas ao redor do fogo,  já éramos dentro do ventre de nossas avós. Somos barro que com água amolece e com fogo se estrutura. Derramamos. Escorremos. Transbordamos. Somos feitas de excessos inomináveis e lá dentro carregamos ocos oceânicos. É preciso conter vazios para transbordar!

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